No ano passado, na quinta-feira (4) de setembro, por volta das 15h,
passei em frente ao prédio principal da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e deparei-me com uma cena
que me deu calafrios instantaneamente. Era um acidente de moto. As
vítimas estavam jogadas no chão, com fraturas expostas e sangue
espalhado por todos os lados. No momento, comecei a me redimir, pedindo
perdão a mim mesmo pelas vezes que andei de bicicleta como o segundo
colocado em uma corrida, que procura por todas suas forças para
ultrapassar o primeiro.
Meu instinto curioso, de jornalista, levou meu
corpo até as vítimas e minhas mãos até meu celular. Antes mesmo de apertar o REC no modo câmera, percebi, pelo sorriso nos rostos daquelas pessoas
cortadas e ensanguentadas, que todo aquele sofrimento não passava de uma
encenação. Meu desespero cessou e o REC já estava em ação. Ao som de
muitos passos, a frota da Guarda Universitária Federal apareceu e
iniciou o socorro às falsas vítimas. Elas gritavam de dor, pediam para
ser salvas, diziam que não queriam morrer, que tinham filhos para criar e
representavam até sofrer convulsão, com direito a vômito de sangue.
Após o resgate, um rapaz tomou a voz. Era o
instrutor que estava dando aulas de socorro à vítimas de casos comuns e
graves, como o recém representado para a guarda universitária. Ele
parabenizou a todos e fez algumas observações. Dentre as mais importantes, sair da linha da
boca sangrando do acidentado era uma delas. Isso evita que um jato de sangue atinja o
rosto de quem está fazendo o resgate, impossibilitando assim qualquer
contaminação. Questionados sobre a encenação dos atores, os guardas
afirmaram que ficaram muito nervosos de tão real que parecia ser toda
aquela cena.
Por fim, o instrutor pediu para esses agentes da
vida meditarem, imaginando-se caminhando pelas ruas e ouvirem uma
criança sorrindo e dizendo: “mamãe, veja aquele homem, foi ele quem
salvou o papai daquele acidente!”. Não pude deixar de me emocionar e ter
a certeza de que o que torna esses heróis felizes não é o salário que
eles ganham, mas a imensurável satisfação em ouvir o “obrigado, você
salvou a minha vida!”.
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