segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A arte de salvar vidas

No ano passado, na quinta-feira (4) de setembro, por volta das 15h, passei em frente ao prédio principal da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e deparei-me com uma cena que me deu calafrios instantaneamente. Era um acidente de moto. As vítimas estavam jogadas no chão, com fraturas expostas e sangue espalhado por todos os lados. No momento, comecei a me redimir, pedindo perdão a mim mesmo pelas vezes que andei de bicicleta como o segundo colocado em uma corrida, que procura por todas suas forças para ultrapassar o primeiro.


Meu instinto curioso, de jornalista, levou meu corpo até as vítimas e minhas mãos até meu celular. Antes mesmo de apertar o REC no modo câmera, percebi, pelo sorriso nos rostos daquelas pessoas cortadas e ensanguentadas, que todo aquele sofrimento não passava de uma encenação. Meu desespero cessou e o REC já estava em ação. Ao som de muitos passos, a frota da Guarda Universitária Federal apareceu e iniciou o socorro às falsas vítimas. Elas gritavam de dor, pediam para ser salvas, diziam que não queriam morrer, que tinham filhos para criar e representavam até sofrer convulsão, com direito a vômito de sangue.


Após o resgate, um rapaz tomou a voz. Era o instrutor que estava dando aulas de socorro à vítimas de casos comuns e graves, como o recém representado para a guarda universitária. Ele parabenizou a todos e fez algumas observações. Dentre as mais importantes, sair da linha da boca sangrando do acidentado era uma delas.  Isso evita que um jato de sangue atinja o rosto de quem está fazendo o resgate, impossibilitando assim qualquer contaminação. Questionados sobre a encenação dos atores, os guardas afirmaram que ficaram muito nervosos de tão real que parecia ser toda aquela cena.


Por fim, o instrutor pediu para esses agentes da vida meditarem, imaginando-se caminhando pelas ruas e ouvirem uma criança sorrindo e dizendo: “mamãe, veja aquele homem, foi ele quem salvou o papai daquele acidente!”. Não pude deixar de me emocionar e ter a certeza de que o que torna esses heróis felizes não é o salário que eles ganham, mas a imensurável satisfação em ouvir o “obrigado, você salvou a minha vida!”.


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