quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O menino que queria ler um livro

Era uma vez um menino que queria ler um livro. Mal sabia ele o que aconteceria quando lesse as primeiras páginas... Lá pela página sete, ele fechou a obra e deitou com a cabeça sobre ela. Desanimado, ele abriu novamente o livro e tentou ler mais algumas páginas. 
O garoto já estava se esforçando para ler só mais duas páginas quando, novamente, fechou o livro. "Impossível", resmungou ele, desanimado consigo mesmo. 
Enjoado de insistir no livro, resolveu ligar a televisão e assistir a programação vespertina do domingo da TV aberta. E foi a partir deste dia que o menino que queria ler um livro desistiu de sua vontade e preferiu ficar com a TV.


Criei este conto "semi-apocalítico" para figurar uma realidade global (por que não exagerar?). Conversando com meu amigo Emerson Bernard no chat do facebook, começamos uma brincadeira de falar difícil, ou falar "chique", como os populares dizem.

Gian Cornachini: "Vossa senhoria tens dons de roteirista. Gostarias de trabalhar comigo em um curta na próxima estação?"

Emerson Bernard: "Merci, querido. Já não se vê há tempos habilidades para a exposição de trejeitos das falas em notas de papel. Outorgar-te-ei a encubência de retratar o roteiro. Todavia, acompanharei vossa senhoria com seu frondoso talento na escrita, que outrora pude notar."


Uma pausa é exigida para uma releitura.

O que Emerson quis dizer, de fato, em sua resposta?

Gian Cornachini: "Estou tentando entender ainda o que você disse."

Emerson Bernard: "Nem eu entendi."

Sinceramente, só compreendi a parte em que ele disse sobre meu talento na escrita.

Resolvi utilizar um dicionário de sinônimos para replicar. Repassei palavras cotidianas para saturnianas, marcianas... como quiser entender, afinal, entender é o que não está em questão.

Gian Cornachini: "Enalteço-me com seus lisonjeios. Só existe um equívoco em vossa edificação de juízos: o indivíduo insubestimável para efetivar tal arte será vossa pessoa, dotada de magníficas oblatas."

E agora, o que eu quis dizer? Se eu tivesse lido este fragmento extraído de qualquer lugar, pararia para reler umas duas vezes. Depois de pseudo-entendido, pesquisaria o significado de "oblata", que pode ser desde um palavrão à cabelos tratados, quem sabe?

Agora, a tarefa é passar esse trecho para a linguagem comum, do nosso cotidiano.

"Fiquei contente com você 'puxando meu saco'. Só que você só errou quando pensou uma coisa: a melhor pessoa para fazer o trabalho [vídeo] é você, que é cheio de dons".

Para um jornal, ainda precisaria dar mais uma ajeitada nisso aí em cima. Agora, para quem quiser entender, de verdade, estará ótimo.

Entendeu porque o menino que queria ler um livro desistiu? É aí que entra a famosa frase: "Por que dificultar se pode facilitar?".

Observação final:
Gostaria que os escritores acadêmicos tivessem conhecido esse menino. Ajudaria muito, aliás, seria mais que "uma mão na roda" para estudarmos felizes os textos que eles pensam que escrevem em português.